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Vestido para matar: o bom gosto Gay de cada dia!


Reza a lenda, que em um reino muito distante, o homem possuía senso apurado para a música, paladar aguçado para novas experimentações gastronômicas, vocação para apostar em hypes que se tornariam populares depois de anos e uma latente condição libertária ao pregar um estado permanentemente avant-garde. E claro, esse cavaleiro meio dândi, meio hedonista sempre esteve alinhado com todas as tendências possíveis da moda pulverizadas pelos quatro cantos do mundo e de certa forma, alterando as engrenagens da própria moda.
Obviamente este homem é gay e milênios de guerras, revoluções e evoluções, nos deparamos com um fenômeno incontestável chamado Internet e a proliferação de blogs de estilo que visam perpetuar a lenda de que o gay é sempre moderno e sinônimo de extremo bom gosto ao se vestir. Será?

O homem, quando gay, é propenso a adquirir um senso de moda mais apurado do que o hétero. Não falo aqui dos metrossexuais, pois é uma categoria que tende a evoluir a forma careta e habitual que o homem hétero se veste, e ainda assim, é diferente da forma com que os homens gays se vestem. No caso dos metros, acabam por se tornar uma fórmula, como um catálogo de moda estrelado pelo David Beckhan. Uma hora ou outra, o metrossexual tem uma recaída e acaba por tirar do guarda-roupa uma das peças mais cafonas do universo masculino: a bermuda cargo.

No nosso caso, os gays, estamos mais abertos a acompanhar tendências e informações de moda, assim como repensar nosso estilo a cada temporada sem perder a nossa essência. Sabemos que a moda masculina passa por uma gradativa evolução e que a cada nova estação contesta os signos de um guarda-roupa que esteve estagnado durante séculos Nas últimas temporadas de desfiles internacionais vimos crescer a vontade de mudar a imagem do homem fazendo com que a roupa seja aliada à construção real de sua personalidade e não apenas uma afirmação da condição homem-macho-alfa imposta pelos paradigmas machistas. Por fim, evoluções da indumentária masculina acarretadas pela androginia dos anos 70, o unissex dos 80 e o underground dos 90 pluralizam cada vez mais o individualismo e o modo de se vestir do homem atual, principalmente dos gays.

O mercado da moda é feito pelo gay, que se encontra presente em várias engrenagens de sua construção. Alexandre Herchcovitch, Marc Jacobs, Tom Ford, Gianni Versace, Domenico Dolce e Stefano Gabbana são alguns nomes apenas para citar. Claro que a moda não nasce gay, mas agrega-se a ela alguns conceitos e preconceitos estabelecidos por meios que habitualmente “entende-se que o cara é gay porque usa determinada peça de roupa”.

Recentemente, tivemos uma prova concreta dessa situação onde na novela “Fina Estampa” apresentada pela Rede Globo entre 22 de agosto de 2011 a 23 de março de 2012, a personagem Crodoaldo Valério ou “Crô”, vivido pelo ator Marcelo Serrado, desfilou peças calcadas na alfaiataria masculina e apresentadas em um assertivo stylist não habitualmente visto por aqui no Brasil. Pela primeira vez, pudemos conferir na TV uma personagem gay com um senso real de informação de moda em seu figurino. Com um fundamento completamente europeu em se vestir, a personagem popularizou o cardigan, assim como a bermuda de alfaiataria e para os mais desavisados, “era uma forma gay de se vestir”. E virou moda entre os gays. Hoje, ninguém mais tem preconceito em vestir uma bermuda de alfaiataria, mas na época da novela – que não faz tanto tempo assim, a peça era erroneamente referida como “bermuda do Crô”.

O Verão 2014 promete trazer algumas discussões referentes à questão de gênero. A última semana de moda masculina internacional colocou em pauta justamente a androginia onde marcas como JW Anderson, Comme des Garçons, Moncler, Jil Sander, Saint Laurent e Raf Simons flertaram com proporções diretas do guarda-roupa feminino apostando em plissados, formas alongadas e tops. Há muitas décadas víamos justamente o contrário.

Marcas desejo como Prada, Phillip Lim, Dries Van Noten, Gucci, Balenciaga, Dior Homme, Versace, Dolce & Gabbana, Louis Vuitton, Marc Jacobs e Lanvin, ainda que pulverizadas, também apostaram em signos femininos e mostraram em suas passarelas proporções, texturas e cores agregadas ao floral, transparência, túnicas e sobreposições não habituais ao guarda-roupa masculino.

Até a alfaiataria foi revisitada na fluidez de ternos, trench e calças como no desfile marcante de Ermenegildo Zegna assim como no desfile da Hermès onde Véronique Nichanian, diretora criativa da marca, apresentou uma sequencia de ternos descombinados que evocaram um certo ar cool e que renova de fato um dos itens mais icônicos do nosso guarda-roupa. Até as redes de fast-fashion nacionais como C&A, Renner e Riachuelo estão adotando aos poucos essa nova forma de ver a moda masculina. Até a coleção passada, dificilmente encontraríamos em suas araras uma camisa manga-longa de poás.

Em um universo paralelo, os blogs de street style masculinos crescem mais a cada dia na web. Se as ideias de uma semana de moda aplicadas a uma passarela funcionam perfeitamente, na vida real é diferente e tudo vira um samba descontrolado, onde incansáveis blogueiros mostram o look do dia como se fosse o “último grito da moda” – amo essa expressão.

A discussão é permanente: isso é gay ou não é gay? Isso é de bom gosto ou de mal gosto? Por eles, encontramos formas de vestimenta que se aproximam mais do figurino de um show de drag-queen do que de fato, algo que prevaleça o senso de moda ou o bom gosto. Não falo aqui do conjunto t-shirt listrada + bermuda de alfaiataria + dock-side que se tornou o look preferido dos menos criativos de plantão. Falo aqui da calça floral print, do body preto e do casado animal print. Tudo em um mesmo look. Já a máxima de que o homem gay é moderno e sinônimo de bom gosto cai por terra, dando vazão para um novo e resumido preceito: além de bicha, é cafona!
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